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Á descoberta de novas aprendizagens do Elearning...

quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

EDUCAÇÃO E SOCIEDADE EM REDE


REFLEXÃO ACERCA DA AUTENTICIDADE E TRANSPARÊNCIA NA REDE

A Consciência Débil da Nossa Autenticidade


A consciência que te acompanha no que vais sendo é o puro registo disso que vais sendo para o poderes ler, se quiseres, depois de já ter sido. Mas no instante de seres o que és, o que és é apenas, por uma decisão anterior ao decidires. O que és é-lo onde a tua realidade profunda em profundeza obscura se realizou. O que és é-lo no absoluto de ti. A consciência testifica-nos apenas como o ser privilegiado que sabe o que é por aquilo que vai sendo e pode assim reconverter-se à posse iluminada disso que vai sendo. A consciência constata mas não interfere senão para se não ser mais o que se foi, ou mais rigorosamente, para se não querer ser o que se é - o que é ser-se ainda, embora de outra maneira.
Porque se neste instante me sobreponho, ao que sou, outra maneira de ser - a consciência que me altera o primeiro modo de ser é a paralela iluminação do modo de ser segundo. Decidi ainda antes de decidir, quando decidi não ser o que primeiramente decidira. Assim no torvelinho dos actos que me presentificam e da consciência desses actos, sempre o insondável de nós se abre para lá do que podemos sondar. Sempre a realidade de nós é a realidade original que nas origens se gera. Sempre a autenticidade de nós está a uma distância infinita das razões que a justificam. 
                                                                 Vergílio Ferreira, in 'Invocação ao Meu Corpo'


AUTENTICIDADE E TRANSPARÊNCIA DO "EU"


Como podemos ver a partir deste excerto de Virgílio Ferreira, a questão da autenticidade do nosso "Eu", virtual ou não, está longe de ser nova.Contudo, o contexto de análise da mesma é-o na medida em que, hoje, com a globalização e a proliferação dos computadores e da internet há dois mundos que se mesclam e que nos fazem pensar: quem é o outro que sou eu? O eu que habita as redes (virtual) sobrepõe-se ao eu (físico) ou "é a paralela iluminação do modo de ser segundo"? Onde reside a debilidade da nossa autenticidade?


Certo é que as redes sociais vieram concretizar o desejo do Homem estar em permanente contato, criando laços emocionais, sociais e culturais rompendo as barreira do tempo e do espaço e abrindo um leque de possibilidades em termos de comunicação e partilha de valores e emoções. Segundo Castells (2003, p. 46), “[...] os primeiros usuários de redes de computadores criaram comunidades virtuais [...] e essas comunidades foram fontes de valores que moldaram comportamento e organização social". 


Nestas mesmas redes sociais, e no ciberespaço em geral, o indivíduo pode criar e moldar o eu que nele habita ou projetar nele aquilo que realmente queria que habitasse. Quer isto dizer que quando criamos a nossa identidade na rede , criamos também o modo como os outros nos vêm; idealizamos e floreamos aquilo que o mundo das relações convencionais não nos permite devido aos traços caraterísticos da nossa personalidade. Mas,tal como afirma  Turkle (1997, p.388), a chave é sermos ao mesmo tempo múltiplos e coerentes. A possibilidade de assumir múltiplas identidades oferece às pessoas, dependendo dos seus perfil e historial psicológicos,“sensações diversas de desconforto na fragmentação da sua identidade, sensações de alívio, possibilidades de autodescoberta ou até de autotransformação”. Também Serra ( 2006), partilha a opinião dizendo que  para muitas pessoas,  a simulação é a solução para os problemas de identidade. “[...] 


Contudo, não se pode deixar de reconhecer que para o "eu" recetor - o que partilha connosco sentimentos, emoções e informações - a autenticidade das palavras que substituem os gestos não é de todo fácil de avaliar pairando sempre um sentimento de desconfiança mediado pela incapacidade de confirmação do que é o real e o que é apenas uma criação para o virtual.Acrescente-se também o facto de que as palavras podem ter vários significados ou interpretações diferentes, dando lugar ao surgimento de novas identidades de quem as produz ((Rheingol, 1996, p. 219). E é nesta senda que se percebe o porquê de se preferir esconder nos meandros da ocultação de dados nas redes sociais a verdadeira identidade. É que prevalece sempre o inigma e o medo que incidem nas intenções do outro que recebe a informação.


 AUTENTICIDADE E TRANSPARÊNCIA DA INFORMAÇÃO NA REDE



 Acerca da temática da autenticidade da informação e plágio na rede,  Lauriza Nascimento  interroga-se: “quem “nasceu primeiro” (se) a intencionalidade de fazê-lo ou o caminho para tal consolidação pelo homem, sujeito de novos tempos, inserido em um novo contexto! Será a Internet a grande vilã? Ou será o homem, o “vilão” no contexto analisado e apropriador de conteúdos de terceiros? Percebem uma ação cíclica nisso?! Até que ponto conseguimos delimitar tais atitudes - será que todas elas são frutos de tentativas puras e simples de subtração? Que outros elementos inserem-se? Em que patamar podemos colocar a desinformação ou a informação positiva no sentido de gerar criticidade nas pessoas por respeito ao que pertence a terceiros? Observamos ações isoladas neste sentido e...muito distante da cultura estabelecida de que é fácil, rápido usar a internet para tais práticas.”

Facto é que da mesma forma que a web possibilita  a busca de informações e pesquisas muito mais amplas, também aumenta o perigo da fraude intelectual pois pode-se aceder aos documentos e proceder à sua integral cópia apossando-nos do alheio à margem da ética. No entanto, na mesma medida em que a Internet facilita o plágio, também ela o denuncia muito mais facilmente até porque existem programas (Approbo, Ephorus, Viper, entre outros) para tal. 


Ora, relativamente à fiabilidade da informação, quem realmente pode assegurá-la? Penso que cabe a cada um de nós minimizar os riscos nas pesquisas. Certo é que somos bombardeados com um mar de informações, mas tal como afirma Rheingold, na sua obra Net Smart , uma das competências é ser digitalmente inteligente, ou seja, em termos informacionais discernir o trigo do joio escolhendo fontes credíveis como sites oficiais, google académico, obras de autores e ver quantas vezes essas fontes já foram citadas na rede.



Segundo Castells,  o desenvolvimento de um país depende, em muito, daquilo que se lhe deixa passar através da rede. Assim sendo, a informação que aí encontramos, certamente, que poderá ser fidedigna dependendo das fontes / repositórios onde se encontrar. Quem o garante? A qualidade científica (quando aí são dadas garantias) e, essencialmente, as redes sociais.

CONTROLO DA REDE


É inegável as proporções gigantescas que a rede tomou onde milhões de computadores estão interligados  e interligam diferentes valores, ideologias e culturas. Onde milhares de pessoas se comunicam partilhando informações e reconstruíndo-as segundo as suas vivências. E é esta a razão pela qual Castells afirma que a proporção da rede leva a comunicação a ser 'desorganizada' e, por este motivo, parece que seja quase impossível existir algo / alguém que controle a rede.

No entanto, questiono-me se não somos diariamente controlados nós pela própria rede? Senão como justificar o facto de idealizarmos ou estendermos a nossa identidade real para a virtual?

Howard Rheingold apresentou num tópico de discussão da WELL o conceito de “Eu saturado” formulado por Gergen, em que “as novas tecnologias da comunicação nos levaram a colonizar os cérebros uns dos outros”.   Ora, esta colonização intelectual é por certo uma forma de controlo não da rede , mas pela rede. É que devido à sua complexidade, imensidão e pluralidade a todos os níveis a rede parece-me impossível de ser controlada total e globalmente à luz do que acontece em outros ramos da sociedade.


RESUMINDO...


As redes sociais agregam efetivamente um universo de pessoas que vão criando laços sociais e sentimentos de pertença. Abre novos caminhos para relações impensadas antes do advento da internet, onde o indivíduo  era, tal como diz Baudrillard (1991) espectador do real, sem participar, e que agora nesta virtualização das relações passa a ver a si na mídia de massa. O indivíduo torna-se o espetáculo, descobre-se como simulador de si e perde-se do real para dar lugar ao hiper-real. Ele vê as redes muitas vezes como possibilidade de ser aquilo que realmente queria ser, tornando-se o "hiper-eu".

No entanto, se tudo isto é verdade, também não o deixa de ser o facto reconhecido de muitas vezes se transfigurar as identidades com intuitos perniciosos, onde os alvos são os mais jovens.Neste caso, cabe sem dúvida aos pais a tarefa da vigília do que pesquisam, a que sites acedem e que identidades esses jovens criam e fazem espelhar de si próprios.

Ainda que se reconheça esses malefícios à Internet e às redes sociais, verdade é que para além de um mal necessário, elas são um verdadeiro augúrio para a criação científica e para o estabelecimento de relações pessoais e profissionais, onde o mundo parece caber na ponta dos nossos dedos. Onde toda e qualquer informação, sem barreiras espaço-temporais, é facilmente acedida. Mas é exatamente aqui que se coloca a tónica da autenticidade dessa informação, cabendo a cada um de nós o papel de Sherlock Holmes que com lupa e astúcia a peneira.

É inegável que já ninguém concebe o mundo sem estes laços, que ao mesmo tempo são reais e virtuais,  sem a partilha diária de informações , mensagens que dão origem a múltiplas interpretações, interpretações essas que nos deixam sempre na mente a questão: Afinal o que é autêntico? 


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
BAUDRILLARD, Jean (1991). Simulacros e Simulação. Relógio d'Água. Lisboa.

CASTELLS, M. (1999). A Sociedade em Rede. A Era da Informação: Economia, Sociedade e Cultura, Vol. I.  Paz e Terra.São Paulo.

JÚLIO, Oliveira (2005). Identidade e interacção social em comunicação mediada por computador. Universidade Nova de Lisboa.Lisboa.

RHEINGOLD, Howard (1996). A Comunidade Virtual. Gradiva, Lisboa.