REFLEXÃO ACERCA DA AUTENTICIDADE E TRANSPARÊNCIA NA REDE
A Consciência Débil da Nossa
Autenticidade
A consciência que te acompanha
no que vais sendo é o puro registo disso que vais sendo para o poderes ler, se
quiseres, depois de já ter sido. Mas no instante de seres o que és, o que és é
apenas, por uma decisão anterior ao decidires. O que és é-lo onde a tua
realidade profunda em profundeza obscura se realizou. O que és é-lo no absoluto
de ti. A consciência testifica-nos apenas como o ser privilegiado que sabe o
que é por aquilo que vai sendo e pode assim reconverter-se à posse iluminada
disso que vai sendo. A consciência constata mas não interfere senão para se não
ser mais o que se foi, ou mais rigorosamente, para se não querer ser o que se é
- o que é ser-se ainda, embora de outra maneira.
Porque se neste instante me sobreponho, ao que sou,
outra maneira de ser - a consciência que me altera o primeiro modo de ser é a
paralela iluminação do modo de ser segundo. Decidi ainda antes de decidir,
quando decidi não ser o que primeiramente decidira. Assim no torvelinho dos
actos que me presentificam e da consciência desses actos, sempre o insondável
de nós se abre para lá do que podemos sondar. Sempre a realidade de nós é a
realidade original que nas origens se gera. Sempre a autenticidade de nós está a
uma distância infinita das razões que a justificam.
Vergílio Ferreira, in
'Invocação ao Meu Corpo'
AUTENTICIDADE E TRANSPARÊNCIA DO "EU"
Como podemos ver a partir deste excerto de Virgílio Ferreira, a questão da autenticidade do nosso "Eu", virtual ou não, está longe de ser nova.Contudo, o contexto de análise da mesma é-o na medida em que, hoje, com a globalização e a proliferação dos computadores e da internet há dois mundos que se mesclam e que nos fazem pensar: quem é o outro que sou eu? O eu que habita as redes (virtual) sobrepõe-se ao eu (físico) ou "é a paralela iluminação do modo de ser segundo"? Onde reside a debilidade da nossa autenticidade?
Certo é que as redes sociais vieram concretizar o desejo do Homem estar em permanente contato, criando laços emocionais, sociais e culturais rompendo as barreira do tempo e do espaço e abrindo um leque de possibilidades em termos de comunicação e partilha de valores e emoções. Segundo Castells (2003, p. 46), “[...] os primeiros usuários de redes de computadores criaram comunidades virtuais [...] e essas comunidades foram fontes de valores que moldaram comportamento e organização social".
Nestas mesmas redes sociais, e no ciberespaço em geral, o indivíduo pode criar e moldar o eu que nele habita ou projetar nele aquilo que realmente queria que habitasse. Quer isto dizer que quando criamos a nossa identidade na rede , criamos também o modo como os outros nos vêm; idealizamos e floreamos aquilo que o mundo das relações convencionais não nos permite devido aos traços caraterísticos da nossa personalidade. Mas,tal como afirma Turkle (1997, p.388), a chave é sermos ao mesmo tempo múltiplos e coerentes. A possibilidade de assumir múltiplas identidades oferece às pessoas, dependendo dos seus perfil e historial psicológicos,“sensações diversas de desconforto na fragmentação da sua identidade, sensações de alívio, possibilidades de autodescoberta ou até de autotransformação”. Também Serra ( 2006), partilha a opinião dizendo que para muitas pessoas, a simulação é a solução para os problemas de identidade. “[...]
Contudo, não se pode deixar de reconhecer que para o "eu" recetor - o que partilha connosco sentimentos, emoções e informações - a autenticidade das palavras que substituem os gestos não é de todo fácil de avaliar pairando sempre um sentimento de desconfiança mediado pela incapacidade de confirmação do que é o real e o que é apenas uma criação para o virtual.Acrescente-se também o facto de que as palavras podem ter vários significados ou interpretações diferentes, dando lugar ao surgimento de novas identidades de quem as produz ((Rheingol, 1996, p. 219). E é nesta senda que se percebe o porquê de se preferir esconder nos meandros da ocultação de dados nas redes sociais a verdadeira identidade. É que prevalece sempre o inigma e o medo que incidem nas intenções do outro que recebe a informação.
AUTENTICIDADE E TRANSPARÊNCIA DA INFORMAÇÃO NA REDE
Facto é que da mesma forma que a web possibilita a busca de informações e pesquisas muito mais amplas, também aumenta o perigo da fraude intelectual pois pode-se aceder aos documentos e proceder à sua integral cópia apossando-nos do alheio à margem da ética. No entanto, na mesma medida em que a Internet facilita o plágio, também ela o denuncia muito mais facilmente até porque existem programas (Approbo, Ephorus, Viper, entre outros) para tal.
Ora, relativamente à fiabilidade da informação, quem realmente pode assegurá-la? Penso que cabe a cada um de nós minimizar os riscos nas pesquisas. Certo é que somos bombardeados com um mar de informações, mas tal como afirma Rheingold, na sua obra Net Smart , uma das competências é ser digitalmente inteligente, ou seja, em termos informacionais discernir o trigo do joio escolhendo fontes credíveis como sites oficiais, google académico, obras de autores e ver quantas vezes essas fontes já foram citadas na rede.
RESUMINDO...
As redes sociais agregam efetivamente um universo de pessoas que vão criando laços sociais e sentimentos de pertença. Abre novos caminhos para relações impensadas antes do advento da internet, onde o indivíduo era, tal como diz Baudrillard (1991) espectador do real, sem participar, e que agora nesta virtualização das relações passa a ver a si na mídia de massa. O indivíduo torna-se o espetáculo, descobre-se como simulador de si e perde-se do real para dar lugar ao hiper-real. Ele vê as redes muitas vezes como possibilidade de ser aquilo que realmente queria ser, tornando-se o "hiper-eu".
No entanto, se tudo isto é verdade, também não o deixa de ser o facto reconhecido de muitas vezes se transfigurar as identidades com intuitos perniciosos, onde os alvos são os mais jovens.Neste caso, cabe sem dúvida aos pais a tarefa da vigília do que pesquisam, a que sites acedem e que identidades esses jovens criam e fazem espelhar de si próprios.
Ainda que se reconheça esses malefícios à Internet e às redes sociais, verdade é que para além de um mal necessário, elas são um verdadeiro augúrio para a criação científica e para o estabelecimento de relações pessoais e profissionais, onde o mundo parece caber na ponta dos nossos dedos. Onde toda e qualquer informação, sem barreiras espaço-temporais, é facilmente acedida. Mas é exatamente aqui que se coloca a tónica da autenticidade dessa informação, cabendo a cada um de nós o papel de Sherlock Holmes que com lupa e astúcia a peneira.
É inegável que já ninguém concebe o mundo sem estes laços, que ao mesmo tempo são reais e virtuais, sem a partilha diária de informações , mensagens que dão origem a múltiplas interpretações, interpretações essas que nos deixam sempre na mente a questão: Afinal o que é autêntico?
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
BAUDRILLARD, Jean (1991). Simulacros e Simulação. Relógio d'Água. Lisboa.
AUTENTICIDADE E TRANSPARÊNCIA DO "EU"
Como podemos ver a partir deste excerto de Virgílio Ferreira, a questão da autenticidade do nosso "Eu", virtual ou não, está longe de ser nova.Contudo, o contexto de análise da mesma é-o na medida em que, hoje, com a globalização e a proliferação dos computadores e da internet há dois mundos que se mesclam e que nos fazem pensar: quem é o outro que sou eu? O eu que habita as redes (virtual) sobrepõe-se ao eu (físico) ou "é a paralela iluminação do modo de ser segundo"? Onde reside a debilidade da nossa autenticidade?
Certo é que as redes sociais vieram concretizar o desejo do Homem estar em permanente contato, criando laços emocionais, sociais e culturais rompendo as barreira do tempo e do espaço e abrindo um leque de possibilidades em termos de comunicação e partilha de valores e emoções. Segundo Castells (2003, p. 46), “[...] os primeiros usuários de redes de computadores criaram comunidades virtuais [...] e essas comunidades foram fontes de valores que moldaram comportamento e organização social".
Nestas mesmas redes sociais, e no ciberespaço em geral, o indivíduo pode criar e moldar o eu que nele habita ou projetar nele aquilo que realmente queria que habitasse. Quer isto dizer que quando criamos a nossa identidade na rede , criamos também o modo como os outros nos vêm; idealizamos e floreamos aquilo que o mundo das relações convencionais não nos permite devido aos traços caraterísticos da nossa personalidade. Mas,tal como afirma Turkle (1997, p.388), a chave é sermos ao mesmo tempo múltiplos e coerentes. A possibilidade de assumir múltiplas identidades oferece às pessoas, dependendo dos seus perfil e historial psicológicos,“sensações diversas de desconforto na fragmentação da sua identidade, sensações de alívio, possibilidades de autodescoberta ou até de autotransformação”. Também Serra ( 2006), partilha a opinião dizendo que para muitas pessoas, a simulação é a solução para os problemas de identidade. “[...]
Contudo, não se pode deixar de reconhecer que para o "eu" recetor - o que partilha connosco sentimentos, emoções e informações - a autenticidade das palavras que substituem os gestos não é de todo fácil de avaliar pairando sempre um sentimento de desconfiança mediado pela incapacidade de confirmação do que é o real e o que é apenas uma criação para o virtual.Acrescente-se também o facto de que as palavras podem ter vários significados ou interpretações diferentes, dando lugar ao surgimento de novas identidades de quem as produz ((Rheingol, 1996, p. 219). E é nesta senda que se percebe o porquê de se preferir esconder nos meandros da ocultação de dados nas redes sociais a verdadeira identidade. É que prevalece sempre o inigma e o medo que incidem nas intenções do outro que recebe a informação.
AUTENTICIDADE E TRANSPARÊNCIA DA INFORMAÇÃO NA REDE
Acerca da temática da autenticidade da informação e plágio na rede, Lauriza Nascimento interroga-se: “quem “nasceu primeiro” (se) a intencionalidade de fazê-lo ou o caminho para
tal consolidação pelo homem, sujeito de novos tempos, inserido em um novo
contexto! Será a Internet a grande vilã? Ou será o homem, o “vilão” no contexto
analisado e apropriador de conteúdos de terceiros? Percebem uma ação cíclica
nisso?! Até que ponto conseguimos delimitar tais atitudes - será que todas elas
são frutos de tentativas puras e simples de subtração? Que outros elementos
inserem-se? Em que patamar podemos colocar a desinformação ou a informação
positiva no sentido de gerar criticidade nas pessoas por respeito ao que
pertence a terceiros? Observamos ações isoladas neste sentido e...muito
distante da cultura estabelecida de que é fácil, rápido usar a internet para
tais práticas.”
Facto é que da mesma forma que a web possibilita a busca de informações e pesquisas muito mais amplas, também aumenta o perigo da fraude intelectual pois pode-se aceder aos documentos e proceder à sua integral cópia apossando-nos do alheio à margem da ética. No entanto, na mesma medida em que a Internet facilita o plágio, também ela o denuncia muito mais facilmente até porque existem programas (Approbo, Ephorus, Viper, entre outros) para tal.
Ora, relativamente à fiabilidade da informação, quem realmente pode assegurá-la? Penso que cabe a cada um de nós minimizar os riscos nas pesquisas. Certo é que somos bombardeados com um mar de informações, mas tal como afirma Rheingold, na sua obra Net Smart , uma das competências é ser digitalmente inteligente, ou seja, em termos informacionais discernir o trigo do joio escolhendo fontes credíveis como sites oficiais, google académico, obras de autores e ver quantas vezes essas fontes já foram citadas na rede.
Segundo Castells, o desenvolvimento de um país depende, em
muito, daquilo que se lhe deixa passar através da rede. Assim sendo, a
informação que aí encontramos, certamente, que poderá ser fidedigna dependendo
das fontes / repositórios onde se encontrar. Quem o garante? A qualidade
científica (quando aí são dadas garantias) e, essencialmente, as redes sociais.
CONTROLO DA REDE
CONTROLO DA REDE
É inegável as proporções
gigantescas que a rede tomou onde milhões de computadores estão interligados e interligam diferentes valores, ideologias e
culturas. Onde milhares de pessoas se comunicam partilhando informações e reconstruíndo-as segundo as suas vivências. E é esta a razão pela qual Castells afirma que a proporção
da rede leva a comunicação a ser 'desorganizada' e, por este motivo, parece que
seja quase impossível existir algo / alguém que controle a rede.
No entanto, questiono-me se não
somos diariamente controlados nós pela própria rede? Senão como justificar o
facto de idealizarmos ou estendermos a nossa identidade real para a virtual?
Howard Rheingold apresentou num
tópico de discussão da WELL o conceito de “Eu saturado” formulado por Gergen,
em que “as novas tecnologias da comunicação nos levaram a colonizar os cérebros
uns dos outros”. Ora, esta colonização intelectual
é por certo uma forma de controlo não da rede , mas pela rede. É que devido à sua complexidade,
imensidão e pluralidade a todos os níveis a rede parece-me impossível de ser
controlada total e globalmente à luz do que acontece em outros ramos da
sociedade.
RESUMINDO...
As redes sociais agregam efetivamente um universo de pessoas que vão criando laços sociais e sentimentos de pertença. Abre novos caminhos para relações impensadas antes do advento da internet, onde o indivíduo era, tal como diz Baudrillard (1991) espectador do real, sem participar, e que agora nesta virtualização das relações passa a ver a si na mídia de massa. O indivíduo torna-se o espetáculo, descobre-se como simulador de si e perde-se do real para dar lugar ao hiper-real. Ele vê as redes muitas vezes como possibilidade de ser aquilo que realmente queria ser, tornando-se o "hiper-eu".
No entanto, se tudo isto é verdade, também não o deixa de ser o facto reconhecido de muitas vezes se transfigurar as identidades com intuitos perniciosos, onde os alvos são os mais jovens.Neste caso, cabe sem dúvida aos pais a tarefa da vigília do que pesquisam, a que sites acedem e que identidades esses jovens criam e fazem espelhar de si próprios.
Ainda que se reconheça esses malefícios à Internet e às redes sociais, verdade é que para além de um mal necessário, elas são um verdadeiro augúrio para a criação científica e para o estabelecimento de relações pessoais e profissionais, onde o mundo parece caber na ponta dos nossos dedos. Onde toda e qualquer informação, sem barreiras espaço-temporais, é facilmente acedida. Mas é exatamente aqui que se coloca a tónica da autenticidade dessa informação, cabendo a cada um de nós o papel de Sherlock Holmes que com lupa e astúcia a peneira.
É inegável que já ninguém concebe o mundo sem estes laços, que ao mesmo tempo são reais e virtuais, sem a partilha diária de informações , mensagens que dão origem a múltiplas interpretações, interpretações essas que nos deixam sempre na mente a questão: Afinal o que é autêntico?
BAUDRILLARD, Jean (1991). Simulacros e Simulação. Relógio d'Água. Lisboa.
CASTELLS, M. (1999). A
Sociedade em Rede. A Era da Informação: Economia,
Sociedade e Cultura, Vol. I. Paz e Terra.São Paulo.
JÚLIO, Oliveira (2005). Identidade e interacção social
em comunicação mediada por computador. Universidade Nova de Lisboa.Lisboa.
RHEINGOLD, Howard (1996). A
Comunidade Virtual. Gradiva, Lisboa.
http://www.citador.pt/textos/a-consciencia-debil-da-nossa-autenticidade-vergilio-antonio-ferreira acedido em 3.01.2014
http://www.nehte.com.br/simposio/anais/Anais-Hipertexto-2012/RoberioBarreto-Vozesexistenciais.pdf acedido em 3.01.2014
http://www.slideshare.net/MPeL/my-m-pelantonioteixeira acedido em 04.01.2014